ESCULTURA DE MERCEDES BAPTISTA NO RIO DE JANEIRO, POR M. PITANGUY.
DE ORIGEM HUMILDE, MERCEDES MUDOU-SE NOVA PARA O RIO DE JANEIRO ONDE TEVE VÁRIOS TRABALHOS (DENTRE OS QUAIS COMO EMPREGADA DOMÉSTICA E COMO OPERÁRIA EM FÁBRICA DE CHAPÉUS E NUMA GRÁFICA, MAS FOI COMO BILHETEIRA DE CINEMA QUE TEVE ACESSO AOS FILMES E AO SONHO DE DEDICAR-SE À ARTE. FREQUENTOU ESCOLA PÚBLICA SITUADA NO BAIRRO DA TIJUCA, O COLÉGIO MUNICIPAL HOMEM DE MELLO.
INICIOU SEUS ESTUDOS DE
BALÉ (EM 1945) COM A BAILARINA EROS VOLÚSIA, ENTÃO PROFESSORA DO SERVIÇO NACIONAL DE TEATRO, QUE
INDICOU-LHE OS PRIMEIROS CAMINHOS PARA A DANÇA; COMPLETOU SUA FORMAÇÃO NA
ESCOLA DE DANÇAS DO THEATRO MUNICIPAL (ATUALMENTE A ESCOLA ESTADUAL DE DANÇA MARIA OLENEWA) COM A PROFESSORA RUSSO-BRASILEIRA MARIA OLENEWA E YUCO LINDERBERG, NA DÉCADA DE
1940. EM 18 DE MARÇO DE 1948, EM DIFÍCIL CONCURSO PÚBLICO, PASSOU A
INTEGRAR O CORPO DE BAILE DO THEATRO MUNICIPAL, SENDO A PRIMEIRA MULHER NEGRA A
CONSEGUI-LO E, AO LADO DE RAUL SOARES QUE
TAMBÉM PRESTOU ESTE CONCURSO, UMA DOS DOIS NEGROS ALI.
APESAR DISTO, SOFRIA
CONSTANTE DISCRIMINAÇÃO, A PONTO DE NÃO CONSEGUIR
TRABALHAR; NUMA ENTREVISTA DE 1981 ELA DECLAROU: "MADELEINE ROSAY, VASLAV VELTCHEK, EDY VASCONCELOS E NINA VERCHININA ME DERAM BOAS
OPORTUNIDADES NA CARREIRA, SEM OLHAR MINHA COR. OS PROBLEMAS VIERAM DEPOIS. EU
ME VI DE REPENTE EXCLUÍDA DE TUDO, E NEM QUE PUSESSE UM CAPACHO COBRINDO MEU
ROSTO ME DEIXAVAM PISAR EM CENA. SÓ UMA VEZ ATRAVESSEI O PALCO USANDO
SAPATILHAS DE PONTAS E, AINDA ASSIM, LÁ NO FUNDO." — AO QUE ELA PROCUROU
CONTORNAR, COMO DISSE EM OUTRA OCASIÃO: “TUDO FOI SEMPRE MUITO DIFÍCIL, MAS
QUEM IRIA ASSUMIR OU DEIXAR CLARO QUE PARTE DAS MINHAS DIFICULDADES ERA PELO
FATO DE QUE EU NÃO ERA BRANCA? NUNCA IRIAM ME DIZER ISSO, NEM DIZER QUE O
PROBLEMA ERA RACIAL, MAS EU SABIA QUE ERA E, POR ISSO, SEMPRE LUTEI CADA VEZ
PROCURANDO ME APERFEIÇOAR.” ELA ENTÃO PASSA A INTEGRAR O TEATRO
EXPERIMENTAL DO NEGRO COMO BAILARINA, DEPOIS COMO COLABORADORA E
FINALMENTE COREÓGRAFA.
A CONVITE DA COREÓGRAFA E ANTROPÓLOGA KATHERINE DUNHAM, QUE HAVIA CRIADO NOS ESTADOS UNIDOS UMA COMPANHIA DE DANÇA EXCLUSIVAMENTE FORMADA POR BAILARINOS NEGROS, BAPTISTA FOI PARA AQUELE PAÍS ONDE TEVE AULAS DE DANÇA MODERNA E TOMOU PARTE DO ATIVISMO NEGRO.
DE VOLTA AO BRASIL FUNDA
O BALLET FOLCLÓRICO MERCEDES BAPTISTA, DEDICADO À FORMAÇÃO DE
BAILARINOS NEGROS QUE, ALI, PESQUISAVAM E INCORPORAVAM EM SEUS TRABALHOS E
MOVIMENTOS A CULTURA AFRO-BRASILEIRA,
GRANJEANDO DESTAQUE NO CENÁRIO ARTÍSTICO E REALIZANDO TURNÊS POR PAÍSES DA
EUROPA E AMÉRICA DO SUL.
EM 1963 ELABOROU A
COREOGRAFIA DA ESCOLA DE SAMBA ACADÊMICOS DO SALGUEIRO, E
INSERIU DE MODO PIONEIRO NA SUA COMISSÃO DE FRENTE ELEMENTOS
DA DANÇA CLÁSSICA. TAMBÉM FOI RESPONSÁVEL PELA "ALA DO MINUETO",
HOJE CONSIDERADA CLÁSSICA, NO ENREDO QUE TRATAVA DE XICA DA SILVA; SOBRE ESSA INOVAÇÃO O CARNAVALESCO MANOEL DIONÍSIO, QUE
PARTICIPARA DO DESFILE, DECLAROU: "HOUVE MUITAS CRÍTICAS NA ÉPOCA. FOI
UM ESCÂNDALO. FOMOS CONSIDERADOS PELA CRÍTICA OS IDEALIZADORES DE UMA
COREOGRAFIA MALDITA PARA O CARNAVAL CARIOCA. MAS, DOIS ANOS DEPOIS, COMEÇARAM
NOS COPIAR.”
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